“Já chupei coisa pior” – uma entrevista com Michelle Bolsonaro

segurando o gorfo

A primeira dama fala com exclusividade ao ArcaicoPan e revela que tem aproximadamente uns duzentos problemas.

Incumbido por este site para entrevistar a primeira dama, fui recebido por ela com um sorriso radiante no rosto e a pergunta “Então você é o entrevistador da Jovem Pan?” Preferi não desmentir.

Michele “já chupei coisa pior” Bolsonaro

ArcaicoPan: D. Michele, a senhora recentemente foi destaque na imprensa e nas redes sociais por ter aparecido falando em “línguas estranhas” na comemoração da nomeação para o STF do ministro André Mendonça, o evangelicamente terrível…

Michelle Bolsonaro: Terrivelmente evangélico.

AP: Ah, perdão, terrivelmente evangélico. A senhora ficou bem feliz, não?

MB: Claro, fiquei feliz. Primeiro porque agora teremos um homem de Deus no STF.

AP: Realmente. E a prova disso é que o próprio Deus baixou na senhora durante a comemoração da nomeação e enrolou sua língua.

MB: Exato! Tem gente insinuando que não foi real.

AP: Que absurdo! Imagina que coisa patética, ridícula, vil, seria a primeira dama de uma país fingir estar possuída pelo Espirito Santo e falando em línguas estranhas!

MB: É…

AP: A senhora precisaria ser uma pessoa absolutamente desprezível para cometer um desrespeito desse com a fé das pessoas, sendo a primeira dama do país!

MB: …

AP: Felizmente foi um verdadeiro pentecostes. Foi tudo real.

MB: Graças a Deus. Mas as pessoas são preconceituosas, né?

Um verdadeiro pentecostes: o Espírito Santo usou a boca de Michelle Bolsonaro para dizer coisas da maior importância para a humanidade. Infelizmente escolheu um idioma que ninguém entende.

AP: Duvidar que a senhora incorporou o Espírito Santo é mais uma cristofobia.

MB: Eu também estou feliz pela nomeação porque agora tem um aliado do Bolsonaro no STF. Fico feliz por causa de questões como o tal inquérito de fake news do supremo.

AP: E qual a opinião da senhora sobre estes inquéritos?

MB: Um absurdo! É uma questão de liberdade de expressão! Mesmo quando não concordamos com a opinião dos outros temos que defender a liberdade de exprimi-las.

AP: Sim. Concordo plenamente. Mas é difícil, né? Outro dia vi uma fake news onde diziam que a fome havia voltado no Brasil, que tinha brasileiro usando lenha pra cozinhar osso, porque não teria dinheiro para gás ou carne, coisas do tipo. Mandei um trava Zap pro infeliz na hora, mas temos que ser mais tolerantes.

MB: Bom, mas este caso é diferente! Essa mentira é grave! Tinha que ter punição mesmo. E você disse bem, é fake news. No Brasil não tem fome. O Jair já explicou: como é possível ter fome em um país onde tem manga pra chupar? Eu saberia, eu venho de uma família muito pobre.

AP: E a senhora chupava pra não passar fome?

MB: Sim.

AP: Manga?

MB: Também. Mas pra não passar fome eu já chupei coisa pior.

Fome Zero: o programa de Deus é melhor que o do PT

AP: Tipo… outras frutas?

MB: Isso… outras frutas. Isso virou até uma espécie de lema meu. Sempre que eu tenho uma desafio ou uma situação desagradável que eu tenho que enfrentar eu penso: “já chupei coisa pior” e encaro.

AP: Fascinante! Inspirador!

MB: Uma das vezes, por exemplo, foi quando o pastor me ajudou a treinar a falar em línguas, porque eu não conseguia. Não é assim, uma coisa que se sai fazendo de uma hora para outra. Foram vários dias, ele e eu sozinhos, treinando. E o treinamento não é fácil, foi desafiador. Mas eu enfrentei, disse para mim mesma: “já chupei coisa pior”. E encarei.

AP: A religião parece ser bem importante na vida da senhora.

MB: Demais, demais. É quando eu vou pra igreja que eu me alivio, que eu esqueço minhas dores, meus problemas. E você consegue imaginar o tanto de problema que eu tenho por ser esposa do Jair, né?

AP: Claro, não deve ser fácil ser esposa do Presidente da República.

MB: Isso… do Presidente da República, foi o que eu quis dizer.

AP: São muitos problemas?

MB: Com certeza! Porque estamos o tempo todo…

AP: Quantos?

MB: … o quê?

AP: Quantos problemas?

MB: Quantos? Não sei, muitos…

AP: Uns dez?

MB: … ah… mais, muitos mais…

AP: Uns cinquenta?

MB: Muitos problemas… porque estamos o tempo todo…

AP: Uns duzentos?

MB: … duzentos?… pode ser… São muitos porque estamos o tempo todo defendendo…

AP: Caramba! Duzentos! É muito mesmo! Eu tenho uns quatro!

MB:

AP: Acordar, comer, trabalhar e dormir.

MB: … entendi… Como eu dizia, como a gente está o tempo todo…

AP: Cinco!

MB: … oi?

AP: Tenho cinco problemas! Lembrei que também tenho que lembrar de tomar meus remédios.

MB: Certo… como a gente está o tempo todo defendendo os valores da família, especialmente nós os evangélicos, então eu, como primeira dama, tenho que o tempo todo lutar pelos valores da família e dar o exemplo.

Evangélicos defendem a Família

AP: Claro, claro. Nesse sentido tem algo que dizem por aí – não sou eu quem diz, claro, mas uns desocupados por aí – que o Bolsonaro não é um defensor da família porque ele já esteve em vários casamentos e que quando a mulher dele fica um pouco mais velha ele se separa dela e casa com uma novinha. O que a senhora acha disso?

MB: Um absurdo, né? Bolsonaro só pensa na família, em proteger os filhos da PF! Trocar de esposa não é como o homosexualismo, que acaba com a família. É só a troca de um elemento dela! A família continua sendo a família.

AP: Entendi, é como os The Beatles [um conjunto musical que fez muito sucesso no século passado, plebe ignara! vão estudar!]

MB: Os the quem?

AP: Os the Beatles. A senhora não deve conhecer por ser uma mulher refinada, mas é um conjunto musical que fez muito sucesso no século passado.

MB: Entendi. Mas o que eles têm a ver?

AP: Eles tiveram que trocar o baterista porque o baterista anterior, o John Lennon, foi morto por uma facada.

MB: Que coincidência! O Bolsonaro também foi morto por uma facada!

AP: Foi a mesma coisa, a história dos grandes homens se assemelha. E então eles tiveram que colocar um outro baterista e depois disso a banda continuou sendo os The Beatles do mesmo jeito, até hoje.

MB: Isso. Com a família é igual. E o Jair tem esse jeito exigente e mandão, mas é todo família.

AP: Ele é assim? Duro e rígido?

MB: Não, duro e rígido não é faz tempo. É mandão e exigente. E era assim quando eu o conheci. Logo no começo do relacionamento ele fez uma exigência bastante desagradável, um desafio que eu teria que encarar.

Mandão

AP: Que tipo de exigência?

MB: Bom, você sabe. [A primeira dama, uma árdua defensora dos direitos da pessoa com deficiência, responde a minha pergunta usando LIBRAS – movendo uma mão fechada próximo ao rosto e empurrando a bochecha com a língua dentro da bocagesto que eu não entendi, por não saber LIBRAS, mas que fingi entender porque um profissional da JovemPan entenderia. Eles têm dinheiro suficiente pra aprender LIBRAS.] Sabe, isso não seria nenhum problema, mas quando eu vi a… a coisa, eu achei tão grotesca, tão repugnante, tão [faz cara de nojo e parece segurar um gorfo] nojenta! Foi um verdadeiro desafio.

LIBRAS!!!!

AP: Já sei. Um desafio que a senhora disse pra si mesma “Já chupei coisa pior” e encarou?

MB: Encarar eu encarei. Mas não disse nada, não.

Imagine beijar a boca de alguém que caga pelo nariz?

AP: Por que?

MB: Porque até então eu não tinha chupado nada pior que aquilo. Na verdade até hoje não chupei nada tão ruim.

Não existe cheque de miliciano no mundo que pague uma porra dessas.

Neste momento percebo que meu velho gravador não estava funcionando desde o começo da entrevista e verifiquei que estava estragado com duas pilhas National vazadas dentro dele.

Interrompi a entrevista porque já estava longa demais pra uma entrevista que eu teria que transcrever de memória, sem a gravação. O problema é que, sem gravação, eu não tenho prova de que a entrevista aconteceu.

E assim peço a caridade que enviem trabalhos de freelancer para:

H. Romeu Icenta
jornalismo e marido de aluguel
“Icento até no nome”

Porque agora eu preciso economizar para comprar um gravador novo. E eu não sei onde arranjar manga.

Loading

About the Author

H.Romeu Icenta
Assim como Caio Coppola, Augusto Nunes, Alexandre Garcia e Vera Magalhães meu sucesso como colunista é meritocrático e quem diz que não passo de um idiota reacionário é alguém que nunca teve que chupar um pau para conseguir nada.

Be the first to comment on "“Já chupei coisa pior” – uma entrevista com Michelle Bolsonaro"

Leave a comment

Your email address will not be published.


*